segunda-feira, dezembro 15, 2008

ONTEM PELA TARDE ENSOLARADA



Circulando através de Berlim a cidade morta


No regresso de um qualquer país estrangeiro


Senti pela primeira vez a necessidade


De ir desenterrar a minha mulher ao seu cemitério


Eu próprio deitei sobre ela duas pazadas cheias


E de ver o que dela ainda resta


Os ossos que nunca vi


De segurar o seu crânio na minha mão


E de imaginar o que era o seu rosto


Por detrás das máscaras que trazia


Através de Berlim a cidade morta e de outras cidades


No tempo em que estava vestido com a sua carne


Não cedi a esta necessidadePor medo da polícia e dos comentários dos meus amigos.


Heiner Müller

3 comentários:

merdinhas disse...

Luxuria Canibal

merdinhas disse...

Já viste texto que faça mais justiça ao nome?

Naked Lunch disse...

uma pérola... uma cápsula...