sexta-feira, setembro 28, 2007

love song...

encosta os dois joelhos ao braço dormente. sente a coisa fluir através do corpo (sobretudo pernas). sem cores nem animais (com asas). o membro sente-o de novo. não adianta muito. uma bofetada de realidade. violenta.

sempre teve aquele buraco ali, no meio do peito. fora mesmo acusado de raquitismo (tretas). é por ali que os dedos da mão (agora acordada) se passeiam. sente as batidas, sempre fortes, ultimamente. tenta em vão que também o peso escoe. talvez com um dreno.




... ouve-se escoar por aqui
love song

solidão, saudade, qq coisa queridos defuntos (mão morta)




diz-se que saudade será uma palavra exclusivamente portuguesa. não sei se cientistas americanos já o provaram. diz-se com orgulho. alguma alegria mesmo. “somos o povo da saudade”. não vou falar de identidade/alma (aborrece-me), salto uns quantos degraus no assunto. (paf).

de facto esta saudade (solidão?) terá sido (é) o motor de umas quantas obras que me são particularmente queridas (aqui e em muitos outros lados). mas foda-se... é assim qualquer coisa de muito pesado. a saudade/solidão são isso mesmo. um peso no peito (já vimos atrás que chega por vezes ao estômago). tristeza. melancolia. angústia (palavra particularmente pesada). daí para a demência tem sido um pulinho. (paf). preferia estar com a tribo do torresmo. o cardume dos peixinhos da horta (não Horta). ou mesmo o rebanho dos alegres. devia de haver uma vacina... não... uns comprimidos...

quinta-feira, setembro 27, 2007

isso e máxines

uma das máquinas mais belas. das de escrever. devidamente lubrificada. não a uso para escrever, não dá muito jeito. também não é minha, sequer... (ainda não a devolvi, desculpa) um sistema fechado, do tipo input/output (aplicável a quase tudo, se se dominarem bem as variáveis e soubermos o que se quer como produto – fácil de perceber numa fábrica de salsichas. mas aplicável noutros contextos. lembras-te daquelas maquinetas de moer carne para croquetes? o sistema é perfeito. substitui qualquer psicólogo ou AFINS). uma tecla, um braço mecânico, um símbolo impresso (estou de novo na máquina de escrever. desculpem as interrupções).

a coisa pode ser entendida como a desconstrução da música (frase verdadeiramente pseudo, sinto-me na obrigação de acrescentar... “ou não”).

exercício: uma máquina de escrever, antiga, emprestada, ainda não devolvida. coloca objectos metálicos (caricas por exemplo) e ovos (N.A. - pequeno objecto musical em forma de ovo, com pequenas esferas metálicas por dentro (claro). faz tssshque tssshque). sobre os braços metálicos (da máquina). escreve aleatoriamente. foca-te no som produzido, deve soar bem. fluido, de novo. capta a coisa. passa o som captado por processador(es) de efeitos (ou afins – se não tiveres esquece lá isso). é o som assim torturado (pequeno apontamento bondage) que te deve chegar aos ouvidos (normalmente irá soar a qualquer coisa aquática). tem de continuar a soar bem.

o texto assim criado é uma imitação da natureza (sem comentários, isto às vezes...)

natureza. (coisa captada de costas (mania), num espelho enferrujado, gasto. não se percebem os dentes. num fundo plano de mar. uma moreia costeira e todos os outros): sdasjforffisjdfiije932jsfd nsadflrfyhkSKASFEJD GNlLANLK Nllkdlkas dljsaaffv aflnsf v
sddasfasdg fdfdgnçklldfdg dvbkknmAllLLsmslk§o3ijjsdngllnSDGKdk dçkjdg~hskjfjjhf~k jLsJDSGFLDGGKGG KFÇSKKA SÇLLKMWOKFMGHÇKGÇÇKKMRÇWSÇÇLL sççlfkmfffkyoj twejrjrjrjkmdfknedfr weftlnnewlff welfnZ,XC ELKRN\PWIERHTJTJGNHW~RF IHSDGNFGLKNFRD

apesar de tudo gosto mais de musicar textos. mas a máquina de escrever é de facto um bom instrumento. de percussão. isso e bloooops.

daqui a um bocado



estou farto de paisagens. aborrecem-me. apetecem-me de novo quatro paredes e uns quantos objectos. e letras que não falam de viagens, de escritores. qualquer coisa sobre peixes de rio. farto de realidade e de surrealismo. o céu não tem de ser nem azul nem amarelo (facto). as lagostas não têm de ser animais alcoólicos, sentadas ao balcão, discursos improváveis (cientistas americanos parecem tê-lo provado). os peixes vêem de facto o mundo com outros olhos, o seu mundo é diferente e os seus olhos (deles) obedecem a outras lógicas (ainda por provar). já abandonei a lógica há muito e não me apetece ser contemplativo. vou ser aluno, beber de um ou outro mestre. imitar qb. desconstrui-los até me soarem bem, a baleias. azul profundo (deep blue), mergulho sem óculos, desfocado. essa realidade é assim mesmo, desfocada, até para os peixes. mas a mim falta-moar. sonoridades subaquáticas. antes isso que pescador. e sons de pássaros. abstracto. vou construir apitos que imitam peixes. e soprar. e pisar o improvável. surpreender-me. entusiasmo auto-suficiente. auto-hipnotismo. criar um estilo.

quarta-feira, setembro 26, 2007

baleias

(NA - pode não parecer mas é uma baleia)


herberto helder e paul auster. solidão ainda. sobre a desconstrução da palavra. até ao estado mais puro. a utopia do silêncio. não vou citar, não me apetece atalhar. de novo um caderno, mas este é meu.

de novo um exercício. um texto impenetrável, de tão denso. daqueles que levam académicos a longas masturbações lógicas. teses. um sorriso no fim. “EU percebi”. esquece lá isso. fluuuuuuuuuuuuuuuush. contemplação.

o texto mantém-se incompreensível mas dispara-te (ou cospe, menos violento, talvez. de uma ou outra maneira, não vomita). umas quantas imagens (dispara ou cospe umas quantas imagens). mentais. não importa não perceber. esquece lá isso.

tenta chegar a umas quantas palavras chave. não importa que erradas. esquece lá isso. a coisa está desconstruída na lista (minimal, se possível).


agarra na lista (agarra, relê, recorta, picota,...). mistura as palavras. desconstrói numa segunda camada. e depois noutras camadas. as que te apetecer. contemplação de novo. não caias na tentação de as organizar. esq...

a lista começa por si só a sugerir paisagens sonoras. toca-as (no sentido musical da coisa). da contemplação à intuição. sem segundas tentativas. o erro aqui não se coloca. es... podes usar as camadas que entenderes necessárias (duas ou três deverão ser suficientes. uma seria o ideal, mas é mais difícil), mas mantém a coisa fluida. fluuuuuuuuuuuush.

podes usar a repetição de forma abusiva. ou não.


a paisagem sonora que criaste é o silêncio do texto inicial. ou não é nada disso mas às vezes ajuda ter um conceito de chegada.

os meus autores soam a baleias melancólicas. não as controlo, cantam prati. mas acho que estou praivirado.

segunda-feira, setembro 24, 2007

passos (coiso...)



o peso chega a ser insuportável... como aquelas dores, não muito fortes... das que moem, permanentes... imperfeitas.


experiência:

coiso escolhe uma ilha. pequena, longe o suficiente. daquelas em que nos apercebemos que estamos ali. marca um quarto, dos antigos, sem grandes distracções. permite-se a alguns livros na bagagem. sabe ler.

(a experiência deve ser conduzida no mais puro estado de lucidez.) – este parêntesis tem a mania. a frase, leva-a num pequeno caderno, dáguarelas.

o peso surge por si só. ainda assim, poderá ser potenciado de forma significativa: recorda-te dos momentos passados com ela. concentra-te no sonho que nunca vais viver. na doença, se for o caso. recorda os que te foram próximos e já morreram. tenta escolher um (o mais pesado), e concentra-te por aí. esta será a segunda frase do caderno, mas só aparece mais tarde. não fosse testemunha pouco interessada, lembrá-lo-ia que outra estratégia poderia passar pelo estímulo de uma fobia (as fobias são uma chatice...)

não procures eventuais distracções locais. tenta não dialogar. podes caminhar.
(frase três. as que se seguem continuam a estar por ordem, no caderno, com uns quantos borrões a negro, pelo meio, sem ordem aparente – há que não arrumar demasiado as coisas, exercício inútil).


frase: não vale a pena estimular o pensamento lógico. não tentes perceber sentidos, afasta-te de espiritualismos. podes ser contemplativo. estimula raciocínios paranóicos (????).


frase: aproveita o estado mental para criar. passados alguns dias estarás capaz de criar ambientes abstractos impenetráveis, com toques de demência aguda. dedica-os aos que te são inacessíveis. (pessoalmente considero isto das dedicatórias uma bela treta... a criação é um acto e um produto – ponto).


frase: não deverá demorar muito tempo até que o peso se torne insuportável, constante. a coisa concentra-se no aparelho respiratório e digestivo (termos técnicos). pensas arrancar tudo com uma colher ferrugenta. um corpo mais leve, um buraco por ali (o coiso fez a bagagem à pressa, esqueceu a colher. tenta sem sucesso envelhecer uma, de aço inoxidável manhoso). – nota: não percebo nada disto.


epílogo
por estas alturas o peso passa a episódios esporádicos. as ideias mais arrumadas. fazes as malas e regressas. solitário na mesma. mais leve. assobias paisagens sonoras que desconheces.

domingo, setembro 23, 2007

da fluidez



o fundo do mar é o efeito de reverb por excelência (deep blue). primeiro soa a nada. silêncio, portanto. engano. passados uns quantos segundos recomeçamos a ouvir. não há ritmo possível. o som é processado (naturalmente) pela fluidez marinha. e o resultado é a fluidez marinha. a tirania da fluidez (marinha). melhor que tocar numa catedral vazia. melhor que tocar numa estação de comboios vazia. o som é violentamente limado (manipulado, torturado, podes escolher o verbo). da violência à calma, fluidez (repito-me). as secções misturam-se, transformando o som. não é possível qualquer exercício lógico. num sistema do tipo 1,2,3,4 o 1 mistura-se com o 2 e, a determinada profundidade, influencia o 3 e o 4. o mesmo com o 2, 3 e 4. nas paisagens abissais, o 1 passa a 3 arraçado (o passado passa a presente, depois da primeira volta. não deixa de ser impressionante. também os seres destas profundidades parecem não fazer sentido). os quatro passam a uma massa (nuvem, parede, vapor,...) fluida. é a morte do ritmo (tirando uns quantos bloooops). o que fica são flutuações mais ou menos intensas desta nuvem, que assume transformações de tonalidade e volume (normalmente soa bem, com alguma facilidade). um pouco como o choco, que vai mudando de cores ao longo do trajecto. como no choco, inspirações de natureza sexual provocam tonalidades mais intensas. acho. (as questões territoriais também, mas essas não me dizem nada. é coisa de ciclídeo). é esse o som que quero fazer. primeiro sozinho, depois a 2 ou 3. apreciar o efeito inesperado das metamorfoses provocadas pelo embate (fluido) das diferentes nuvens assim provocadas. por trás projecções aquáticas que a. acabou por nunca fazer. com chocos. e malanga, de chicote na mão (novo apontamento bondage).

é proibido fumar no quarto



fumo na casa de banho. coiso sentado, escondido (as melgas que me vão lixar a noite, por ali). olhos no (do) espelho. não deixa de ser estranho, observam-me (“passo demasiado tempo sozinho”, pensa, em voz alta. sorri). “estás bem?” “não, nada. sei lá. não me apetece pensar nisso agora. deixa-me.”


não percebo porque dizias que são amarelos. não conheço ninguém de olhos amarelos. só algumas espécies de aves. se fosse pássaro seria ganso patola. com patas azuis.


flash: (imagem) um ninho numa gaiola dourada. um pequeno porco exercita-se numa gaiola. sorri. sua. coiso gosta de porcos. animais sociáveis e inteligentes. quase sempre desvalorizados. saber. algumas espécies de animais acasalam para a vida. não me lembro quais. aves acho. talvez das que não migram. daquelas de ninhos engenhosos.

flash: “ficaste na mó de cima”... a expressão é injusta para a mó de baixo. as duas complementam-se. encaixam na imperfeição, é assim que são mós. c. (abreviatura de coiso) gosta de imperfeições. (dentes imperfeitos, encavalitados, rebeldes mas funcionais).

imagem do tipo de olhos amarelos. descalço sobre um telhado de vidro.
imagina o céu a entrar-te (te, outro tipo) pelo quarto abaixo (o céu fica quase sempre por cima) enquanto bates uma pívia solitária. constelações de esperma morto piscam o olho à ursa menor. o alivio é breve. mas isso há-de ser passado...

noutro plano, o dos olhos amarelos continua a imaginar-te (nova quase personagem, fêmea). deitada. uma colcha aos quadrados (indecifráveis). cola-se. o encaixe é imperfeito (mas funcional). adormece, com facilidade.

quarta-feira, setembro 05, 2007

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... quero dormir com um vapor lilás imenso e transparente e entorpecer-me a memória. al berto