sobre o "guts", na rascunho.net...
Dizer que é visceral é escrever o óbvio. Este EP de estreia dos New Connection extravasa – e muito – os caminhos adolescentes da Pop, a suave honestidade das canções de cabeceira, as políticas de natalidade, o embaraço da dança e da performance, a teimosia geográfica das latitudes da música, a escrita desenvolta no papel branco. É este a fatia que foge ao bolo, cereja em riste, auto-estrada das sensações fora. Mas se a rebeldia é um acto capital, de vitória, pode ser ainda perigoso e inglório.
Há muito que o amplexo deixou de ser o do Trip Hop inicial, lá das terras de 2004. As veias incharam às distintas gastronomias melómanas e o enfarte compassivo das composições empacota hoje os seus ouvintes numa claustrofobia radiante. A mistura – quase desenfreada – do New Wave com o Avant-Garde, do Noise com a dissimulada Electrónica, numa panela instrumental é uma carícia que, se não for tratada com o devido cuidado, crema e afugenta.
Guts é um disco demasiado orgânico para quem não estiver preparado, ou uma peça sublime para os que usam a nuvem por cabeça e a noite por coração. É uma obra ambígua, pois claro. Mas é de sumo interesse enquanto casa intermédia para um casamento absoluto e decisivo da vontade dos músicos – e isto deve chegar no próximo registo. Têm eles a oportunidade – criada pelos próprios, é certo – de arrebatar de vez e impulsionar uma pujante massa de seguidores, tornando-se numa das mais queridas bandas do underground português, ou, no mesmo tiro, deixar cair tudo por terra e somarem-se ao lote das desilusões. O passeio é curto.Se, logo de entrada, Glories & Jewels é praia para alguma admiração, ou estupefacção e estranheza até, é o refrão de Lollypop que nos traz à memória a imagem de uma qualquer Diamanda Galás ainda de fraldas na voz de Sandra. A cabeça assente, diz que sim senhora, com um esgar de espanto e aceitação, que se entroncará nas melodias de Little Tommy, na eloquência quase macabra de Liar, Creeper e no sonho dilacerado de Sex in Town. Para o fim fica a mais capaz composição: Gold im Mund.
Os New Connection são hoje um quinteto, composto por Sandra (voz e teclas), Gonçalo Leitão (guitarra), Torré (guitarra e saxofone), Pedro Antunes (baixo) e Cali (bateria). As raízes estão em Lisboa e o carimbo nesta estreia é da Mouraria Records. Pedro Alçada (Coty Cream) foi o responsável pela produção do trabalho.
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